A força que vinha das espadas
e armaduras
Nas palavras do Xogun Tokugawa Leyasu, a espada era “a alma do
Samurai”. Por aí, já é possível ter uma ideia do que significava esta peça para
os guerreiros, tanto que a espada e o Samurai são conceitos inseparáveis não só
no imaginário das pessoas, mas também nos relatos históricos.

Mas existia um mito em torno desta arma milenar que explicava de
forma mais abrangente a aura de poder e status que a rodeava: a espada teria
sido dada pelo Deus do Sol, Amaterasu Omikarni, ao seu neto, Ninigi-No Mikoto,
quando este fora enviado para reinar na terra. Por isso, quando um governante
era empossado, ele também recebia uma espada.
Os tesouros dos guerreiros

História


Conforme as espadas foram deixando de ser retas e tornando-se mais
curvas, passaram a adquirir, digamos assim, uma identidade mais japonesa,
deixando um pouco de lado os modelos chineses. Por isso, o termo Nippon-To ou
Nihon-To, que significa literalmente “espada japonesa”, é reservado geralmente
às armas com curvatura, que surgiram durante o período Heian (794-1184), quando
houve um grande avanço das técnicas do trabalho com o metal no Japão.
Nesta época, foi criado o método de forjar uma espada com a
superfície exterior dura e o núcleo macio e as peças passaram a receber
inscrições derivadas de motivos budistas, o que mostra uma forte ligação do
trabalho do cuteleiro com a religião. Além disso, tornou-se habitual assinar as
lâminas. O Tachi mais velho com o nome do cuteleiro gravado data de 1159 foi
feito por Namihira Yukimase.
Mais tarde, com o início do Xogunato de Kamakura (1184-1333), a cidade
homônima transformou-se numa espécie de “capital cultural” e os cuteleiros de
todo o país mudaram-se para lá.
Um dos mais famosos, Masamune, tornou-se um dos mestres do estilo
Soshu, que se caracterizava por produzir peças mais ostensivas. Essa
“sofisticação” das espadas coincidiu com o começo da soberania da classe dos
Samurais sobre os outros guerreiros e com o surgimento de mais um modelo de
espada, o Tanto, que era pequeno e foi desenvolvido para ser utilizado com
apenas uma mão, em lutas corpo a corpo.

Primeiro período do Muromachi
Nesta época dos feudos em guerra, enquanto os exércitos cresciam,
os soldados a cavalo tornavam-se mais raros e a força principal vinha dos
soldados Samurais que combatiam a pé. Assim, surgiram os Katanas, com lâminas
mais curtas, medindo entre 69 e 72 centímetros e, portanto, mais fáceis de
carregar e mais rápidos para sacar.
Período médio do Muromachi
Enquanto a mobilidade das tropas se tornou estrategicamente mais
importante, as espadas começaram a ficar ainda mais curtas. A maioria feita
neste período tinha de 60 a 65 centímetros de comprimento, com a lâmina em
largura uniforme. Este foi o auge do Katana, que se caracteriza por ser
relativamente curto, carregado dentro da correia com a borda de corte para
cima.
No entanto, a necessidade crescente de espadas fez com que caísse o padrão de qualidade, pois as
peças passaram a ser produzidas em massa (Kazuchi foi o termo usado nestas
armas), tanto que cerca de 100 mil espadas foram exportadas para a dinastia
Ming da China.
Último período Muromachi
Em 1543, as características das guerras no Japão mudaram para
sempre. Neste ano, os portugueses introduziram as primeiras armas de fogo que,
mesmo não sendo tão eficientes na época, causaram grande efeito nas batalhas.
Um dos maiores generais do período, Nobunaga Oda, por exemplo, usou-as na
batalha pela reunificação do Japão.
A arte de confeccionar espadas

A relação entre o artesão e sua obra era realmente algo que
transcendia a atividade, tanto que existe uma lenda relacionada ao espírito do
cuteleiro que era colocado nas fibras do aço: o mais famoso armeiro japonês foi
Massamune, conhecido pelo seu espírito bom, pois sempre que podia ajudava as
pessoas de seu vilarejo. Ele via suas obras como objetos artísticos e
instrumentos para a busca da paz. Já seu melhor discípulo, Muramasa, que,
apesar de aprender toda a técnica e arte, possuía um espírito ruim, foi
excluído da atividade. Conta-se que ao colocar duas espadas, uma de Massamune e
outra de Muramasa em um regato (quando folhas são jogadas na água), as folhas
eram atraídas para a lâmina da primeira e repelidas pela da segunda. E isso era
relacionado ao sentimento ruim que Meramasa colocava em suas lâminas.
Hoje em dia, a confecção de uma espada leva em torno de duas
semanas e a lâmina deve ser afiada o suficiente para cortar a seda. O trabalho
do cuteleiro continua muito valorizado, pois uma boa peça chega a custar US$ 50
mil no mercado de colecionadores.
A denominação das espadas
Os nomes mudam conforme o período ao qual as peças pertencem:
- Jokoto (espadas antigas) - Ano 795
- Koto (espadas velhas) - Ano 795 a 1596
- Shinto (espadas novas) - Ano 1596 a 1624
- Shinshinto (mais novas espadas) - Ano 1624 a 1876
- Gendaito (espadas contemporâneas) - Ano de 1876 a 1953
- Shinshakuto (espadas modernas) - Ano 1953 até hoje
Outras armas
Boken ou Bokuto
Durante os treinos, os Samurais usavam uma espada de madeira com cerca de 97 centímetros de comprimento. Apesar de não ser feito de metal, o Boken também pode machucar. Uma pancada causa muita dor e pode ser fatal.
Yumi
Arco japonês feito de bambu (material que, na filosofia oriental,
simboliza harmonia). Depois das espadas, eram as armas mais utilizadas pelos
Samurais que começavam a aprender a atirar flechas ainda na infância.
Jo
Bastão leve de madeira resistente com 1 metro e 28 centímetros de comprimento que era usado tanto nos treinamentos quanto em combates reais.
Naginata ou alabarda
Com aproximadamente 2,5 metros de comprimento, o lado curvo representa uma lâmina e era usada para cortar e estocar.
Yari
Lança com cerca de 2,90 metros de comprimento, que era manejada com movimento de torção e estocadas.
Kodachi
Espada curta de 54,9 centímetros de comprimento, era a segunda arma do Samurai e, portada na mão esquerda, era usada sozinha ou junto com a espada longa (Katana).
Jitte ou Jutte
Literalmente significa “a força das dez mãos”. A arma servia para desarmar o oponente com ataques feitos com espadas e era utilizada pelos policiais japoneses feudais, os Doshin. Munisai Hirata, pai de Miyamoto Musashi, desenvolveu a arte marcial no qual se usava o Jitte, lança e duas espadas.
Era Edo
Aqui começou o governo de Tokugawa e, neste período, apesar das
armas de fogo já fazerem parte do armamento dos exércitos, as espadas
continuaram a ser produzidas e de forma ainda mais refinada, pois a
matéria-prima ficou mais fácil de ser encontrada e os cuteleiros passaram a
trocar mais experiências, pois deixaram de ficar fixos em uma localidade e
começaram a seguir com os exércitos.
A diferença entre as espadas produzidas no período Edo e nos
anteriores era tão grande que as pessoas classificavam em “antigas espadas”, as
que vieram antes, e “novas espadas”, as que passaram a ser feitas a partir de
então.
Só que esta fase de “bons ventos” não durou muito, pois com a
unificação interna do Japão, foi instituída uma lei proibindo os Samurais de
possuírem espadas. Além disso, a inflação e a queda na qualidade do aço
produzindo fizeram com que as espadas ficassem piores.
Tempos modernos
A partir de 1868, quando o Xogunato de Tokugawa finalmente caiu, o
imperador Meiji reestruturou o poder, concentrando-o no trono e não mais nos
feudos, e os Samurais perderam sua importância e privilégios, como o de
carregar o Daisho.
Depois do declínio da classe e de sua extinção, os cuteleiros
tiveram que encontrar outra forma de renda. No entanto, as espadas ainda
voltaram a ser fabricadas em massa até que foram proibidas pelos
norte-americanos, depois da Segunda Guerra Mundial, quando milhares de peças
foram confeccionadas e destruídas.
Parecia o fim da arte de confeccionar espadas, exceto por algumas
peças feitas exclusivamente para rituais e ocasiões públicas. Mas, após 1953,
quando os norte-americanos deixaram o Japão, a produção de espadas tornou-se
legal novamente. Havia ainda mestres vivos que ensinavam as gerações seguintes
e o ofício ressurgiu com força total na década de 80, pois o interesse por
essas armas como objetos de arte começou a crescer.
Ainda hoje há cuteleiros no Japão que trabalham
fazendo espadas de forma artesanal, com a mesma qualidade e beleza que eram
produzidos nos áureos tempos dos Samurais, só que esta atividade é controlada
pelo governo e o número de espadas fabricadas por cada cuteleiro é limitada.
Além disso, os aprendizes devem comprovar um número mínimo de anos de
aprendizado com um professor licenciado para poder exercer a profissão.
Armaduras dos Samurais

Por volta do século 12, os japoneses adotaram uma armadura formada
de placas laqueadas umas sobre as outras, que era feita com chapas de aço
atadas com cordões de seda ou de couro.
E como uma indumentária feita só de ferro era muito pesada para
usar, este material ficava concentrado somente na parte que exigia mais
proteção e, mesmo assim, era alternado com couro. Isso tudo para diminuir o
peso, pois uma clássica armadura proporcionava grande proteção, mas pesava em
torno de 30Kg, o que era muito desvantajoso numa batalha, já que não dava
flexibilidade, principalmente, quando se lutava a pé.
O Do formava o corpo da armadura e era dividido em duas placas
largas, para os ombros (Sode), que eram fechadas na parte de trás por um arco
chamado Agemaki, que permitia livres movimentos enquanto o corpo se mantinha
completamente protegido.

Alguns desenhos antigos mostram Samurais usando uma máscara
primitiva chamada Happuri, que cobria somente as bochechas e a testa. Nenhuma
armadura era usada no braço direito, para deixa-lo livre para sacar o arco, e,
no braço esquerdo era utilizada apenas uma manga com lâminas costuradas.
Como um Samurai de elite, os soldados que
lutavam a pé tinham que se contentar com uma indumentária mais simples chamada
Do Maru, um tipo de manto para o corpo, que era mais parecido com uma armadura
curta, presa na cintura com um cinto.
Conheça as partes da armadura
Samurai
Sueate (protetor de cabeça)
Sueate (protetor de cabeça)
Consistia em duas lâminas verticais presas por juntas ou correntes
e, geralmente, alinhadas com tecido. Havia também lâminas de couro presas na
parte interior que iam em contato com o estribo na cavalgada.
Haidate (protetor de coxas)
Era um tipo de avental com a parte inferior sobreposta de lâminas
de metal ou couro.
Yugate (luvas)
Eram feitas de pele animal
que podiam ter um orifício na palma, que acreditava-se ser o olho de um porco
selvagem. A mão direita deveria ser colocada antes da esquerda.
Kote (mangas)
Eram feitas de diversos materiais, como tecido, couro e lâminas de
metal, e que serviam para proteger os antebraços e os punhos.
Do (protetor de abdômen)
Kusazuri (tipo de saia)
Era feita de lâminas de metal que servia para proteger a virilha e
as coxas e era presa a um cinto de couro e amarrado ao Do.
Uwa-Obi (cinto)
Era feito de linho e algodão que amarrava o Do.
Sode (protetor de ombros)
Feito de lâminas de metal. OSode e Chusode eram tipos maiores
usados somente por importantes oficiais.
Hoate (máscara)
Variava muito de modelo, conforme o período. Um tipo específico de
máscara ou viseira que cobria o nariz, o queixo e as bochechas era chamado de
Mempo. Havia seis diferentes estilos, alguns tinham bigodes ou aparência
demoníaca.
Kabuto (capacete)
Havia centenas de estilos diferentes de
capacetes que variavam conforme o período. Eles simbolizavam o poder e status
do Samurai e podiam ser adornados com chifres ou formas de monstros.