Aikido, um caminho ou uma arma?
Atualmente a capacidade do homem moderno em criar
armas chegou a níveis fabulosos. Com o simples apertar de botão um general pode
disparar um míssil atômico capaz de destruir uma cidade e sua população em
poucos minutos. As armas de fogo também altamente sofisticadas permitem, como
uma pequena metralhadora utilizada com uma só mão, rajadas de centenas de tiros
por segundo. O poder de um homem armado, com qualquer destas armas modernas é simplesmente
fantástico. Certamente um pequeno grupo de soldados equipados com tais armas,
facilmente derrotaria qualquer exército romano, japonês ou chinês armado com
espadas, flechas e lanças que eram as poderosas armas da antiguidade.
Quão fácil é para alguém com uma boa arma de fogo
derrotar qualquer pessoa desarmada. Por mais forte, por mais ágil, por mais
treinado, que seja o melhor dos faixa preta de qualquer arte marcial, ainda
assim ele se encontraria em tremenda situação de inferioridade, diante de um
homem que soubesse usar qualquer arma de fogo.
Por esta razão, já por volta do ano de 1600, os povos orientais deixaram
de treinar artes marciais com finalidade de usá-las como instrumentos de luta
guerreira. Porém, como perceberam que o treinamento das artes marciais
desenvolvia nos praticantes agilidade, percepção, sensibilidade, saúde,
equilíbrio, disciplina, maturidade, compreensão, e tantos outros atributos,
continuaram a exigir de seus soldados, e de seus dirigentes políticos a prática
marcial. Elas serviram de forma
importante a desenvolver o homem, não só para melhor viver durante a paz, mas
também para desenvolver virtudes, que certamente poderiam ajudá-lo a usar
melhor novas armas de guerra. Portanto,
a utilização da prática das artes marciais como treinamento de desenvolvimento
humano físico, emocional e espiritual (Budo) é muito antiga.
Infelizmente quando os ocidentais
chegaram ao Oriente e viram os povos asiáticos praticarem artes marciais,
somente enxergaram o lado briguento, fazendo analogia com o box, e receberam
estas práticas na Europa e nas Américas como “Artes para se tornar bom de
briga", como esportes competitivos.
Muitas pessoas ainda estão treinando
lutas marciais em academias, porque querem aprender a bater nos outros. Coitados, imaginemos que aquele em que
baterem, resolver pegar em seu revólver e revidar. Certamente o pseudo artista marcial, com
bastante sorte, apenas irá para um hospital, ou se levar a pior, terá seu nome
perenizado em uma lápide no cemitério: "Fulano de Tal, grande artista
marcial, vencedor de 1000 lutas... morto baleado por um bêbado raquítico em uma
discussão de bar!". Assim grandes mestres no passado criaram seu próprio
Budo, para evolução humana, principalmente, pois perceberam esta realidade
incontestável.
Pensando desta forma, Morihei
Ueshiba criou o Aikido. Uma arte marcial onde o Indivíduo usaria de técnicas de
lutas antigas, corporais, mas que tivesse como resultado em seu treinamento
fazer do praticante um homem mais saudável, com maior percepção, amadurecido e
principalmente para que pudesse compreender sua função na terra e se aproximar
de Deus, do Criador.
Quem quer entrar em uma academia de Aikido
apenas para aprender a brigar, é como aquele que quer entrar em uma escola de
Engenharia apenas para aprender Matemática. É claro que ao querer ser
engenheiro o estudante aprenderá muito matemática, mas esta matéria seria
aprendida apenas como instrumento para que pudesse construir casas, estradas,
etc. Da mesma forma, o praticante de Aikido
aprende certamente a brigar, pois o Aikido é originário do Aikijujutsu, a
terrível arte marcial de um dos mais ferozes grupos japoneses, o clã Aizu. Porém
esta capacidade física é apenas um instrumento para que o Aikidoista venha a se
tornar um homem melhor, um ser humano mais evoluído.
Outro aspecto importante que os
iniciantes não percebem é que as técnicas básicas, (kihon), que são praticadas
nas aulas de Aikido não têm finalidade de aplicação direta no combate, pois são
uma situação simulada onde a concretização da técnica somente é possível com a
colaboração do parceiro. O objetivo do "kihon" no Aikido é ensinar o
praticante a conhecer seu corpo e o do parceiro: seus pontos fracos e fortes, inconscientemente,
através da prática física, inserir em seu cérebro as leis básicas do universo,
ensinando um caminho para a resolução de conflitos, de forma harmônica e
natural. É por isto que o Aikido é entendido como o "Caminho da Sabedoria".
Ou o "Caminho da Harmonia". O objetivo de seu respeito pelas leis do
Universo e pelos treinamento é fazer com que o homem compreenda seu papel aqui
na terra e passe a viver de acordo com o plano estabelecido para si pelo
Criador. Depois que o Aikidoista, através do "kihon", aprende a
correta base do Aikido, aí sim estará preparado para o conflito, seja ele
físico, emocional, mental ou espiritual (oya waza).
É maravilhoso para nós, que somos
professores de Aikido. Observar como aqueles alunos iniciantes inseguros,
fracos, imaturos, com o passar dos tempos vão se transformando em pessoas
fortes, confiantes e saudáveis, aprendendo a ter respeito pelas leis do
Universo e pelos semelhantes.
É claro que é muito importante nas
artes marciais que se tenha o professor adequado. Muitas pessoas se intitulam professores sem
conhecerem as bases da arte que pretendem ensinar. Infelizmente nas artes
marciais, às vezes, diplomas de faixas pretas são vendidos por dinheiro ou por
favores, por mestres incompetentes e que traem seus compromissos com os
fundadores das artes que praticam. Desta maneira, muitas pessoas bem
intencionadas acabam por cair nas mãos de um destes "professores”, e após
longo tempo de esforços, nada conseguem e se decepcionam.
Aconselhamos àqueles que querem
ingressar em uma escola de arte marcial que antes de se matricularem, que
observem o professor. Verifiquem se ele é maturo, se é querido por seus alunos.
Ouçam os alunos mais antigos, confirmem através de seus depoimentos se eles
atingiram aquilo que estão buscando, e se esta é a proposta do Dojo. Analisem o
ambiente, o “clima do Dojo", se existem respeito, amizade, camaradagem, se
for assim, o professor é bom e o Dojo é seguro. Não acreditem em títulos, certificados,
diplomas, pois eles podem ser comprados. Acreditem em sua própria observação,
em seu próprio sentimento, ao escolherem um professor. E não acreditem em milagres de curto
prazo. O caminho depende de muito
esforço, muita dedicação, muita disciplina, muito amor, mas... Certamente vale
a pena.